domingo, abril 12, 2009

Bitoque...

Perguntarão porquê este título... eu passo a explicar: alguém sabe a origem do nome "bitoque", essa verdadeira instituição nacional que consta de um bife aparadinho, mais ou menos arredondado, para "coincidir" com o ovo a cavalo e acompanhado de batatas fritas, não raro arroz e salada?
Pois bem me parecia... E eu também não sabia, até que uma colega, verdadeiro poço de cultura cujas histórias dá gosto ouvir, esclareceu-me a curiosidade! Aqui fica, tal como a ouvi....
Parece que na Galiza é tradição servir-se um bife aparado, com ovo a cavalo e batatas redondinhas salteadas. Ora há uns aninhos, um Galego apaixonado por Lisboa por aqui se decidiu estabelecer, com um restaurante, na baixa. Claro que o tal bife galego passou a fazer parte da ementa e em breve se tornou popular. O nome do senhor Galego era Bitoque....

E já agora, ficam duas pelo preço de uma.... O nosso "prego".... Porquê esta designação?
Pois acontece que para se fazer um bitoque, o verdadeiro, com o bife do formato aproximado do ovo, era (é) necessário aparar o bife... Essas aparas, longe de serem desperdiçadas, eram vendidas dentro de pão, com o seu molho. E parece que aparas, lá para os lados da Galiza, se diz "pregos"... daí a "prego no pão", foi um instante....

O que faz a estupidez...

A notícia já tem umas semanas: foi morto a tiro um macho de Águia-imperial que nidificava em Portugal, com sucesso. O cadáver foi encontrado junto ao ninho, na área de Castro Verde.
É nestas alturas que me pergunto o que é um ser humano!! É suposto sermos inteligentes, percebermos porque ainda estamos vivos neste planeta que estamos a destruir, mas não.... a estupidez impera!
Que se destruam matas centenárias, Reserva Botânicas, que através da figura dos "PIN's" se dê a volta à legislação e se construa onde era impensável, que surjam aeroportos no deserto e onde "jamais" se poderia construir um, dados os danos irreparáveis aos aquíferos da zona (lembram-se desta?), ou que se construam Alquevas desnecessários, eu ainda consigo perceber: é que algures, alguém vai lucrar e MUITO com todos estes empreendimentos, mas seguramente que não é a comunidade, que se vê privada de serviços de ecossistema fundamentais.

Agora uma Águia!???

A quem aproveita a morte deste animal? Quem foi o estúpido criminoso que foi capaz de o fazer?

Triste país este onde matar é um desporto, onde fazer sofrer animais é tradição e cultura...

País de "faz de conta"

A Mata dos Medos (=dunas), parte integrante da Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica, está classificada como Reserva Botânica desde 1971 e a sua importância é inquestionável... Mas façamos de conta que não é assim, que afinal "aquilo" não tem importância nenhuma, que até está a estorvar e que todos estes anos em que uns "maduros" teimaram em preservar aquele espaço, foram um desperdício.

Ou seja, chamemos estúpidos e alarves a todos os Biólogos que por lá estudam e estudaram, idiotas a quem criou a Reserva e parvos a todos os que naquele local insubstituível usufruem de um serviço de ecossistema a que têm direito.

Mas não se esqueçam, façamos apenas de conta, porque de facto não estamos num país em que os nossos representantes (e empregados, já agora...) se estão nas tintas para o que vão deixar para as gerações vindouras, não estamos num país em que os interesses particulares se sobrepõem aos colectivos, não estamos num país em que os cidadãos não participam nas assembleias decisórias dos seus municípios, não estamos num país em que decide quem não percebe nada do assunto.

Porque se estivéssemos, então era grave e seguramente a justiça puniria severamente quem por dolo, por ignorância ou por estupidez, colocasse em causa ou destruísse o Património Natural colectivo.

Ouço falar em petições, ouço falar em queixas apresentadas ou a apresentar em tribunal, quiçá em Bruxelas. A Quercus apresentou uma providência cautelar, que demora a ter despacho.... entretanto, o concurso público abriu! Temo que mais um atentado contra a natureza e a nossa inteligência seja cometido, caso não acordemos e ponhamos ordem na casa!

Apetece-me gritar "vamos a eles" !

Conservar a Natureza: porquê?

"NÃO PODEMOS ESPERAR MAIS"


Já lá vai o tempo em que os homens podiam alegar desconhecimento, ou mesmo ignorância, sobre as consequências que uma utilização desregrada da natureza acarretaria a curto prazo. Nos tempos actuais, tempos de informação em tempo real, a realidade não pode ser ignorada por ninguém. E muito menos temos o direito de ignorar as responsabilidades que a cada um de nós cabem pelos crimes que cometemos, tantas e tantas vezes em nome de um progresso ou de um desenvolvimento a que agora chamam de sustentável.
Como se fosse conceptuável a existência de outro tipo de desenvolvimento!!
Cépticos? Ora façamos algumas contas simples:
Um veículo moderno, a gasolina, emite em média 150 gramas de dióxido de carbono por quilómetro percorrido. Por força da lei, tal valor está profusamente divulgado, pelo que nenhum proprietário pode ignorar que, para uma vida média de 5 anos, na qual vai percorrer 120 000 quilómetros, coloca na atmosfera da Terra qualquer coisa como 18 toneladas de CO2 !!! Multipliquemos este valor pelo número de veículos semelhantes, adicionemos as fábricas, os aviões (sim, os aviões...), etc e o número a que chegamos é mais que justificativo de um degelo anunciado.
Tenho para mim que só quando a água molhar os calcanhares dos distraídos que dão, erradamente, pelo nome de Homo sapiens sapiens, alguma coisa se fará!!
E não se pense que a destruição do património natural é algo recente; as coisas começaram há muitos, muitos anos...
Antes da última glaciação (Würm), já com o Homo sapiens por estas bandas, o nosso território, por exemplo, possuía um clima subtropical húmido, estando coberto por uma floresta de lenhosas sempre-verdes, semelhante à que ainda hoje se observa nos Açores e na Madeira.

Predominavam árvores da família das Lauraceas como o Loureiro, o Til, o Vinhático e o Barbuzano, razão pela qual a conhecemos como Laurissilva (silva=floresta).

Devido ao extremo frio, esta floresta praticamente desaparece, sobrevivendo apenas nas ilhas da Macaronésia, onde o clima ameno se mantém, resultante do isolamento pela água termorregulante. Após as glaciações, novas espécies ocuparam os nichos ecológicos vagos: eram arbóreas lenhosas, predominantemente da família das Fagáceas, como os Carvalhos (Género Quercus), as Faias e os Castanheiros.

Esta Fagossilva alimentou o Lusitano que não conhecia o trigo, fornecendo-lhe caça e frutos, farinha de bolota para o pão, castanhas e verdes.
Com o advento da agricultura e da pastorícia, iniciámos a destruição do coberto vegetal, para campos de pastagem.

Mais tarde, com os descobrimentos, ajudámos a Europa a cometer o maior disparate ecológico de sempre: a destruição de quase toda a floresta.
Cada nau consumia 2 a 4 mil Carvalhos-alvarinho!
Só para as campanhas de Ceuta e Índia construíram-se 1000 naus e para a do Brasil cerca de 500, num total de mais de cinco milhões de carvalhos!
Dir-se-á, pois, que a tendência do homem para a destruição do património natural e, por arrasto, a sua auto-destruição, já vem de longe...
Eu próprio me espantei quando estes números me foram fornecidos pelo Professor Jorge Paiva, conhecedor como ninguém das realidades da destruição das florestas tropicais. Li em tempos num boletim da Unesco, que desaparecem anualmente 200000 Km2 destes ecossistemas, em grande parte para que possamos comer hamburgers! Recorramos de novo à matemática para dividirmos este número pelos 365 dias do ano, o resultado por 24 horas, o quociente por 60 minutos e uma última vez por 60 segundos.
O valor obtido dá-nos a área que destruímos por segundo neste planeta (ainda) azul! Para quem não quis fazer as contas, são qualquer coisa como 6 360 m2 , o equivalente à área do relvado de um campo de futebol!
Mesmo que exista algum exagero nestes números, a realidade é bem cruel: o Homem está a destruir o seu suporte de vida, os ecossistemas de que depende para se alimentar (é à biodiversidade dos sistemas naturais que vai buscar as espécies que cultiva), para respirar, para curar as suas doenças...
E os exemplos podiam continuar quase indefinidamente, mas com que resultados? Passaríamos a adquirir veículos híbridos, menos poluentes? Passariam as multinacionais petrolíferas a investir nas energias alternativas? O governo Americano passaria a assinar e a respeitar todas as convenções e tratados sobre desenvolvimento sustentável?
Não.
A única maneira de arrepiarmos caminho é estarmos conscientes das consequências da nossa actuação. E para isso, há que mudar programas escolares, educar ambientalmente os jovens, ensinar-lhes de pequeninos os valores de que dependem para sobreviver, afinal ensinarem-nos a serem Cidadãos, assim, com um “C” grande. E depois é esperar que a receita produza efeitos. Demora gerações. Demasiadas, temo eu, para tão urgente tarefa que desde há décadas se anuncia.
Para mudarmos de atitude, temos que interiorizar a natureza.
Podemos conhecer os conceitos, ter na ponta da língua definições e termos muito ambientais, em suma, conhecer toda a teoria! Mas nada substitui o contacto com a verdadeira natureza, com cujas lições aprendemos sobre as sensibilidades do seu funcionamento, sobre os segredos da sua persistência em existir para além dos tempos!
E para isso não nos dão tempo. Os valores dos nossos jovens são feitos do plástico dos grandes centros comerciais. Nas grandes cidades há crianças que nunca tocaram uma galinha ou viram uma ave de rapina a caçar. Não distinguem uma laranjeira de uma macieira.
Separa-se o lixo por que é moda – não se sente o gesto! A poluição e o desperdício são termos que não estranhamos.
O Homem, última criação de uma evolução quase perfeita(?), é o único animal que utiliza a Natureza contra si próprio. Dir-se-ia que se orgulha por utilizar a inteligência da forma mais estúpida possível.
Porquê a conservação da natureza? Porque já não podemos esperar mais. Como disse um chefe índio, «não herdámos a Terra dos nossos antepassados, antes a pedimos emprestada aos nossos netos».
E haverá um dia em que temos de lhes prestar contas, acrescento eu. Mais depressa do que julgamos.