quinta-feira, junho 30, 2011

Berlengas, Reserva da Biosfera...

O anúncio foi dado hoje e logo correu célere a notícia, ao ponto de ter recebido vários telefonemas a dar-me a "boa nova".

A todos respondi que de boa nova, pouco tinha a notícia, que aliás me surpreendeu e muito, dado não me parecer que a Berlenga reúna as condições exigidas para integrar a Rede Mundial de Reservas da Biosfera. Aliás, por isto mesmo a candidatura inicial foi reprovada em Junho do ano passado, e a primeira de todas as candidaturas, em 1991, quando ainda havia Biodiversidade a sério na ilha, também...
Antes tivesse essas condições, e eu estaria a pular de contente, pois isso significaria que as responsabilidades acrescidas iriam contribuir para a preservação de tão importante santuário natural.


Mas temo que seja exactamente o contrário, que este estatuto vá servir de justificação para as políticas de gestão dos últimos anos, e que levaram à extinção de um endemismo (Sardão da Berlenga), ao desaparecimento do Airo, à redução drástica do coberto vegetal, ao criminoso abate de Rato-preto, uma população relíquia que assim passa também a ficar ameaçada, e ao descontrolo (anunciado) da população nidificante de Gaivotas.

Se com estas políticas, ainda assim a UNESCO confere o tão almejado estatuto de Reserva da Biosfera, então é porque as políticas estão certas! Tem lógica para o cidadão desprevenido, mas é mentira e quem conhece a problemática da Berlenga sabe do que estou a falar.

Para começar, legitimou-se o aumento da capacidade de carga para 500 pessoas por dia(!!!), número impensável para quem se dedica à conservação da natureza e que só pode caber na cabeça de quem apenas vê protagonismo e oportunidade de fazer dinheiro, mesmo que a qualidade dos serviços e produtos oferecidos seja péssima!

E tudo isto porque existem mais de 15 operadores turísticos, para um local onde tudo aponta para que 150 pessoas já sejam demais... E não me venham falar dos "estudos" sobre a capacidade de carga, para eu não dizer coisas que não devo dizer...

Parece até que nada no passado se fez pelo arquipélago, estratégia que resulta apenas por o cidadão ter memória curta.
Até a Directora da Escola Superior de Tecnologias do Mar, em Peniche, parece desconhecer todos os estudos que se fizeram, ao ponto de haver poucas Áreas Protegidas em Portugal com um conhecimento tão profundo dos seus valores.

E a prova do que digo está num documento da UNESCO, que pode ser consultado aqui, onde se pode ler "Considering that the Plano de Ordenamento da Reserva Natural das Berlengas, although restricting the activities that can be developd and pursed in the islands and the sea and setting a maximum value for the daily number of visitors, does not contain enough mechanisms to enforce adequate control of the flux of tourists and surveillance,"!

Ora se a própria UNESCO diz isto, como é que o estatuto foi atribuído?
E será que o grupo de trabalho que por esta e outras razões foi criado, de seu nome Grupo de Trabalho Permanente da Reserva da Biosfera das Berlengas, irá mesmo implementar as medidas a que está obrigado?? E porque razão não faz parte deste grupo de trabalho a Associação dos Amigos da Berlenga, entidade que tem feito mais pela preservação do Património Cultural da Ilha que qualquer entidade oficial?

Leiam o documento e formem a vossa opinião... eu já formei a minha!

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