terça-feira, outubro 04, 2011

Que raio de educação a nossa!

Um dia, alguém ao meu lado perguntou a uma senhora que dirigia (dirige?) a LDA, porque não se incomodava com o modo como era realizado o controlo de ratos na cidade de Lisboa. A resposta foi algo titubeante, alegando a saúde pública.
E isto porque a tal senhora se insurgia com o controlo de adultos nidificantes de Gaivotas na Berlenga.

Este episódio diz-nos bem da estreiteza de visão de que a maioria padece, motivada por uma educação egocêntrica e pouco esclarecida. Quando peço aos meus alunos para me enunciarem rapidamente o nome de um ser vivo, invariavelmente surgem nomes de mamíferos, algumas aves e, se aparecerem flores ou plantas, são ditos por raparigas. Répteis, se falados, são-no com uma careta de repugnância...

Digo isto porque parece serem moda os movimentos de defesa dos animais domésticos (cães e gatos, leia-se), mas nada ou quase nada, vejo em defesa dos animais silvestres, essenciais para o equilíbrio dos serviços de ecossistemas, de que dependemos para continuar a existir com saúde e bem-estar!

Não estou a condenar esses movimentos, mas começo a pensar porque será que as mesmas pessoas que se mobilizam para ajudar os gatinhos abandonados, não o fazem pelos habitats ameaçados que, a serem destruídos, vão levar à morte de milhares de formas de vida, algumas tão "babyfaces" como os mamíferos que fazem as delícias do nosso imaginário afectivo.

Ou porque não fazem acções de educação das centenas de pessoas que literalmente deitam toneladas de pão para dentro dos lagos, com a "boa" intenção de "alimentar" os anatídeos e quejandos... É que os patos não vão à padaria, e dar-lhes pão só apressa as suas maleitas, pormenor de somenos importância desde que as crianças pareçam felizes.

E o pior é que sei a resposta: passa pela nossa escola, passa pela educação para a cidadania que não recebemos. Nas cidades actuais, ser cidadão, só nos deveres, porque não interessa muito que um dia acordemos da letargia em que vivemos e nos lembremos de exigir que a Mata dos Medos continue intacta, e com ela os seus coelhos, melros, plantas raras e Ouriços-cacheiros, ou que se dê cumprimento integral aos compromissos assumidos com a UE no que respeita a salvaguarda da Rede Natura, por exemplo.

Se um dia, só por um dia, todos pugnássemos pela conservação da Biodiversidade, bem mais ameaçada que os gatos (tenho 6) e os cães abandonados (tenho 2), talvez o futuro sorrisse para os nossos filhos. Mas estamos condicionados, e sempre é mais cómodo fazer uma quermesse a favor dos animais de rua, que a nossa consciência fica apaziguada por mais uns dias.

Que raio de educação a nossa!

segunda-feira, outubro 03, 2011

A crise, as árvores e a Fernão...

Tal como em todas as escolas onde estavam projectadas obras de revitalização, também as da Fernão foram suspensas.

Neste caso, estávamos a falar de uma escola praticamente nova, com a destruição dos espaços envolventes, cuja vegetação levou a que este cidadão recorresse à mais velha arma da democracia (a petição), com a esperança de fazer as ondas suficientes para que alguém olhasse para o enorme disparate que era destruírem tão belo património.

Afinal, nem foi necessário entregar a tal petição, adiada desde a queda do anterior governo, pois a crise encarregou-se de escrever direito por linhas tortas, ao suspender as obras para contenção de custos.

Aliás, ao que julgo saber, mesmo antes da suspensão total, já houvera um corte substancial nos montante envolvidos que, só por si, deveriam bastar para salvar a maior parte do património que pretendi defender.

Temos, pois, mais uns anos para respirar.

E já agora aproveito para agradecer a todos os que assinaram a petição, na sua esmagadora maioria ex-alunos, pais e alunos, já que os professores, apesar de, nos corredores, se manifestarem contra, "esqueceram-se" de validar a sua assinatura, condição obrigatória para que as petições possam contar com o seu suporte.

Afinal, a crise também tem destas coisas boas.

segunda-feira, agosto 15, 2011

Que gronho!!

Está a passar na RTP 1 uma peça sobre caça, neste que é o dia 15 de Agosto, em que os pobres animais são chacinados sem qualquer razão que o justifique, para além de uns quantos idiotas acharem que se divertem.

Pois ouvi um dos caçadores, entrevistado, referir para meu espanto que a rola "se vê cada vez menos", e que dentro de pouco tempo pode acabar. E termina, com esta frase: "um destes dias não sei como vai ser, mas enquanto vão aparecendo, vamos aproveitando"!!

Esta afirmação devia ganhar um prémio, de tão estúpida ser! É incrível que ainda se dê ouvidos a gronhos destes, que nem para o seu "divertimento" são espertos.

Irra, que Mundo este!

quinta-feira, julho 28, 2011

A hipocrisia tem limites!!

No boletim municipal de Julho/Agosto da Câmara de Almada, no editorial "...em directo", habitualmente escrito pela senhora presidente da câmara, pode ler-se um texto que para os incautos ilustrará o empenho desta edilidade na conservação da Biodiversidade!

A iniciar o texto, afirma a presidente que "No nosso Concelho, com os seus 70,3 Km2, cerca de 50% são ocupados por áreas naturais e espaços verdes, onde se destaca a Mata Dos Medos que integra a Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica, uma área florestal equivalente a 25% do total da área do Concelho representando um verdadeiro santuário natural"

Lê-se, a fechar o artigo..."Mas a defesa e protecção da nossa floresta é uma responsabilidade de todos e de cada um de nós. Para além de constituir um recurso natural indispensável à Vida, ela é, também, uma verdadeira jóia com significado potencial para o desenvolvimento do Turismo de Natureza, conforme se refere no encarte especial Turismo junto a este nosso boletim".

A afirmação de que, na opinião da senhora presidente, a Mata dos Medos é uma verdadeira jóia com significado potencial para o desenvolvimento do Turismo de Natureza, deixou-me com o bichinho atrás da orelha; por isso, fui ver o tal encarte e tentar ler nas entrelinhas...

E no tal encarte, lá estava, para quem quiser ler, a referência e o elogio ao Golf, anunciando até um novo campo, com vista oceânica, a construir no médio prazo! Que eu saiba, com vista oceânica, só na mata dos Medos ou em cima da Arriba, pelo que o gato escondido afinal deitou o rabo de fora!

A hipocrisia vai ao ponto de se escrever palavras não sentidas sobre a importância da Mata dos Medos, e ao mesmo tempo projectar-se uma estrada de ligação entre a Costa e a Fonte da Telha, que vai destruir "só" 200 hectares daquela Reserva Botânica, para lá de uma enorme área das Terras da Costa. A classificação da Mata é para mandar às urtigas?

É isto o turismo de natureza, ou melhor, o turismo na natureza que esta presidente advoga, sem consultar os cidadãos, sem respeitar os estatutos de protecção destas áreas, brigando e conseguindo que o anterior governo tenha autorizado a estrada que anteriormente havia chumbado (lembram-se da Via Panorâmica?), mas agora com outro nome.

Chega de hipocrisias e de desbaratar o património natural que é tanto meu como da senhora presidente! Que direito lhe assiste em querer destruir aquilo que presta um imenso serviço de ecossistema aos cidadãos deste País?

Irra, minha senhora. Pare de deitar poeira para os olhos dos Almadenses.

quinta-feira, junho 30, 2011

Berlengas, Reserva da Biosfera...

O anúncio foi dado hoje e logo correu célere a notícia, ao ponto de ter recebido vários telefonemas a dar-me a "boa nova".

A todos respondi que de boa nova, pouco tinha a notícia, que aliás me surpreendeu e muito, dado não me parecer que a Berlenga reúna as condições exigidas para integrar a Rede Mundial de Reservas da Biosfera. Aliás, por isto mesmo a candidatura inicial foi reprovada em Junho do ano passado, e a primeira de todas as candidaturas, em 1991, quando ainda havia Biodiversidade a sério na ilha, também...
Antes tivesse essas condições, e eu estaria a pular de contente, pois isso significaria que as responsabilidades acrescidas iriam contribuir para a preservação de tão importante santuário natural.


Mas temo que seja exactamente o contrário, que este estatuto vá servir de justificação para as políticas de gestão dos últimos anos, e que levaram à extinção de um endemismo (Sardão da Berlenga), ao desaparecimento do Airo, à redução drástica do coberto vegetal, ao criminoso abate de Rato-preto, uma população relíquia que assim passa também a ficar ameaçada, e ao descontrolo (anunciado) da população nidificante de Gaivotas.

Se com estas políticas, ainda assim a UNESCO confere o tão almejado estatuto de Reserva da Biosfera, então é porque as políticas estão certas! Tem lógica para o cidadão desprevenido, mas é mentira e quem conhece a problemática da Berlenga sabe do que estou a falar.

Para começar, legitimou-se o aumento da capacidade de carga para 500 pessoas por dia(!!!), número impensável para quem se dedica à conservação da natureza e que só pode caber na cabeça de quem apenas vê protagonismo e oportunidade de fazer dinheiro, mesmo que a qualidade dos serviços e produtos oferecidos seja péssima!

E tudo isto porque existem mais de 15 operadores turísticos, para um local onde tudo aponta para que 150 pessoas já sejam demais... E não me venham falar dos "estudos" sobre a capacidade de carga, para eu não dizer coisas que não devo dizer...

Parece até que nada no passado se fez pelo arquipélago, estratégia que resulta apenas por o cidadão ter memória curta.
Até a Directora da Escola Superior de Tecnologias do Mar, em Peniche, parece desconhecer todos os estudos que se fizeram, ao ponto de haver poucas Áreas Protegidas em Portugal com um conhecimento tão profundo dos seus valores.

E a prova do que digo está num documento da UNESCO, que pode ser consultado aqui, onde se pode ler "Considering that the Plano de Ordenamento da Reserva Natural das Berlengas, although restricting the activities that can be developd and pursed in the islands and the sea and setting a maximum value for the daily number of visitors, does not contain enough mechanisms to enforce adequate control of the flux of tourists and surveillance,"!

Ora se a própria UNESCO diz isto, como é que o estatuto foi atribuído?
E será que o grupo de trabalho que por esta e outras razões foi criado, de seu nome Grupo de Trabalho Permanente da Reserva da Biosfera das Berlengas, irá mesmo implementar as medidas a que está obrigado?? E porque razão não faz parte deste grupo de trabalho a Associação dos Amigos da Berlenga, entidade que tem feito mais pela preservação do Património Cultural da Ilha que qualquer entidade oficial?

Leiam o documento e formem a vossa opinião... eu já formei a minha!

Ver também

sábado, maio 28, 2011

O Ambiente, esse desconhecido...

Os serviços de Ecossistema de que depende o nosso bem-estar, ou seja, os benefícios que retiramos de Ecossistemas saudáveis, pela importância de que se revestem para a sobrevivência do Homem na Terra, deveriam merecer da parte dos partidos políticos uma atenção especial e ocupar um lugar de destaque nos seus programas eleitorais.

Como até ao momento ainda não ouvi uma única palavra dos candidatos sobre as questões de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, nem tão pouco dos jornalistas (!?), fui dar uma vista de olhos pelos sites dos 3 principais partidos, para ver o que diziam os respectivos programas...

... e fiquei convencido que de facto, o meio ambiente e a biodiversidade foram mandados às urtigas por todos!! Menos de 2 páginas no programa do PS e apenas lugares comuns, coisas dispersas no programa do PSD, e no do CDS... bem, não consegui encontrar o programa do CDS no seu site, o que me entristeceu, pois nutro alguma simpatia pelo discurso do Paulo Portas.

Admito que foi uma pesquisa rápida, mas não é suposto o programa "saltar" logo à vista??

Que o PS deixou cair a bandeira da conservação da natureza, já o sabia desde há muito, dado o esvaziar do ICN, hoje B... (dantes havia um A!).

As Áreas Protegidas estão abandonadas, sem vigilância que se veja, em especial aos fins de semana, os atentados à Conservação são cada vez mais e ficam impunes, deixam-se extinguir espécies sem que se tomem medidas, permite-se que verdadeiros santuários da Natureza sejam "geridos" pelas Câmaras, que da poda nada sabem - Berlengas será o caso mais flagrante, com aumentos "estudados" da capacidade de carga da Reserva, legalizando assim o excesso de pessoas que irregularmente são transportadas para a Ilha por um número anormal de empresas marítimo-turísticas, que se licenciaram sem que houvesse condições para tal!

Mas que os outros partidos também pouco ou nada, sobre esta matéria, inscrevam nas suas intenções governativas, admira-me. Porque assim, estamos a hipotecar o nosso futuro. Não investir na Biodiversidade é o maior erro que estamos a cometer. Por ignorância ou por estupidez, tanto se me dá. Só espero que um dia os responsáveis paguem pelo que estão a fazer hoje

quinta-feira, maio 26, 2011

Reciclar ou reaproveitar?

A Casa da Cerca, em Almada, está a pedir cápsulas de café nespresso, daquelas que teimamos em consumir (eu incluído, infelizmente) e que são um enorme problema para o ambiente.

Dizem que serão recicladas num "projecto artístico" que acontecerá a 18 de Junho, na festa do aniversário do Jardim Botânico...

De louvar, apesar de um senão... Reciclar??? Não será reaproveitar? para mim até deveria ser apenas aproveitar, já que o destino será bem diferente do inicial...

Apesar deste erro evidente, aproveitem e entreguem-lhes as cápsulas. Sempre é preferível a terem o Malkovich à perna

domingo, maio 22, 2011

Barbaridades na selva

Não é meu hábito ver os programas ditos reais, mas por acaso espreitei hoje a TVI, canal que se não me seduzia muito pelo tipo de programação que tem, agora é mesmo para banir.
Será necessário mostrar a brutalidade que é sacrificar animais para um jogo estúpido cujo objectivo é ganhar dinheiro à conta do pagode menos educado?
Chamam a isto televisão?? Não há quem supervisione isto??

Senhores da TVI, estão a chocar pessoas com brutalidade desnecessária!! Já não basta violentarem os incautos com a figura aberrante que dá pelo nome de Castelo, agora também é necessário violência gratuita?

Gaita, que é demais!

sexta-feira, abril 22, 2011

Depois da decisão do MP madeirense, só resta processar a Igreja...

Acabei de ouvir atentamente a peça da SIC sobre o arquivamento do processo relativo à investigação sobre eventuais negligências na ocupação de áreas de risco na Madeira.
Ficamos assim a saber que as perdas humanas e materiais se ficaram a dever, exclusivamente, a acontecimentos naturais!!

E se o MP o disse, está dito! Mesmo que seja uma evidente conclusão errada, ou seja, uma mentira. Não é preciso ser-se Geólogo para vermos o que ainda está à vista em muitos outros locais, desta vez poupados. E este precedente, agora aberto pelo MP Madeirense, pode vir a ter consequências gravosas em ocorrências futuras, uma vez que a prevenção do risco em áreas de elevada perigosidade está muito aquém do desejável.

Por outro lado, perdeu-se uma boa oportunidade de mostrar cartão vermelho ao Governo Regional e, por extensão, ao da República (que também tem telhados de vidro), pois um processo em tribunal, com condenação por negligência no cumprimento do dever de prevenção e por inexistência de planeamento territorial adequado à sua vocação, era uma lição que ficaria para a História!

E já que estamos na Páscoa, se eu fosse advogado das vítimas, aproveitava para colocar um processo à Igreja... afinal, se foram as causas naturais, e pela natureza é Deus responsável, na impossibilidade de se processar esta entidade, processa-se os seus representantes na Terra... e chamava como testemunha de acusação, o Ministério Público madeirense.

domingo, janeiro 23, 2011

A Pegada Ecológica dos bebés...

Sabiam que os bebés também poluem? Pois é... cinco porcento dos resíduos sólidos urbanos são fraldas dos bebés!!!

E se pensarmos que por ano nascem em Portugal (apenas) 100000 crianças, imaginem quando tivermos bons abonos de família!

Embora mais caras, a opção por fraldas reutilizáveis permitiria reduzir drasticamente este impacto, estimando-se que acabaria por sair mais barato aos pais e ainda "mais barato" ao meio ambiente!

Vamos pensar nisto? Cá por mim, proibiria as fraldas convencionais nas maternidades... o exemplo seria seguido por muitos casais.